Immanuel Kant (1724-1804)1, sobre a felicidade, afirma com maestria, que nós humanos não sabemos de fato o que desejamos e portanto, nunca saberemos o que fazer para alcançar a felicidade.
Para Kant1 a felicidade é a satisfação de todas as nossas inclinações. Como nós não as reconhecemos, a tendência ao buscar a felicidade, é que nos frustremos sempre. Ou seja, ao perseguir a felicidade nós seremos cada vez mais infelizes. Não exagerar e nem insistir na busca da felicidade: eis o conselho kantiano. Deve-se aproveitar o momento fazendo as coisas certas (solidários, com senso de dever, racionais e éticos) em vez de perseguir uma felicidade que será inatingível.
John Stuart Mill (1806 – 1873)2, filósofo e economista, foi o primeiro parlamentar britânico que propôs que as mulheres deveriam ter o direito ao voto. Com esta iniciativa já ganhou a minha simpatia e credibilidade e fez as mulheres momentaneamente felizes. Era um liberal com grande senso de justiça e pregava o utilitarismo. Advogava que as ações são corretas quando nos levam a felicidade e erradas se promovem o reverso da felicidade.
No que tange a felicidade, afirmava que a concentração de bens e riquezas, ou seja, a satisfação de interesses pessoais não correspondia a satisfação do interesse coletivo e recomendava que em vez de preencher a nossa vida com bens materiais, deveríamos manter apenas as coisas que fossem úteis, renunciando às que não tivesse um propósito.
Seguindo esta regra, não é amealhando coisas inúteis, apenas pelo prazer da posse, que seremos felizes. Quanto mais perseguimos a fortuna, inclusive o amor, mais infelizes seremos. Assim, gente, desfaçam-se de tudo que é inútil e desnecessário, das coisas mais simples, aquelas que entulham os nossos closets, até falsos amigos e romances medíocres, que ocupam espaços na nossa vida que poderiam ser melhor aproveitados de forma mais agradável e criativa.
Este pensamento repete as ideias de Luiz Aneu Séneca (4 a.C. – 65 d.C.)3, célebre intelectual, advogado e dramaturgo do Império Romano que afirmava que um sujeito sábio e, portanto, com potencial para ser feliz é aquele que com pouco se contenta, sem desejar aquilo que não tem.
Claro que neste brevíssimo passeio que faço sobre o conceito de felicidade não é para convencer o leitor a distribuir tudo o que possui e ficar sem nada, e tampouco para lhe tolher a positiva ambição de crescer, evoluir, prosperar, e oferecer o melhor para si e para a sua família
A ideia não é a corrida louca para transformar-se em um milionário, mas segundo a recomendação de Mill2, que aprendamos a reconhecer a felicidade na limitação dos nossos desejos, em vez de procurarmos satisfazê-los. Não se deve buscar a felicidade em coisas externas, como o dinheiro.
Ou seja, sejamos felizes com o que possuímos e não nos tornemos infelizes por não termos ainda os objetos e bens do desejo, pois como diria Séneca, as maiores bênçãos da humanidade, leia-se, a felicidade, está ao nosso alcance.
REFERÊNCIAS
1. KANT, I. Crítica da razão pura. 4ª ed. Tradução: Manuela Pinto dos SANTOS e Alexandre Fradique MOURUJÃO. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
2. FENDT, R. John Stuart Mill e as finalidades da vida. Parte do Sumário Executivo de Quatro Ensaios sobre a Liberdade, de Isaiah Berlin. Encarte especial da revista Banco de Ideias. Ano IX, n.32, set/out/nov 2005, p. 19-22.
3. MARCONATTO, A. L. Séneca (4-65). Disponível em http://www.filosofia.com.br?historia_show.php?id=35. Acesso em: 01.08.2018.
Fonte: http://deborahpimentel.com.br/2018/08/14/desapegue-e-seja-feliz/